Estou surpreendido!

Bento XVI sabe, enquanto teólogo, que as aparições de Fátima nunca existiram. A tese é defendida pelo Padre da Lixa, Mário de Oliveira, que disse ao SAPO que não vai acompanhar a visita do Papa a Portugal.




“Com a sua presença em Fátima o Papa vem dar caução a uma realidade absurda”, afirma o presbítero, defendendo que no domínio da teologia é “objectivamente impossível” que tenham acontecido as aparições de Fátima.

“Depois ter ido para o Vaticano, Bento XVI tornou-se um teólogo muito conservador e reaccionário, quase que se negou a si próprio”, nota o Padre da Lixa. “É interessante que hoje existem teólogos que se dedicam a irem ver as posições deste Papa quando era teólogo há 30 ou 40 anos atrás e o que ele hoje está a ensinar, que é exactamente o contrário”, refere Mário de Oliveira.

Esta posição contraditória adoptada por Bento XVI fez com que o Padre Mário de Oliveira tenha decidido a não acompanhar a visita do Papa a Portugal, que decorre entre 11 a 14 de Maio.

A juntar a isso, o facto de Bento XVI ter sido convidado pelo Presidente da República. “Eu como presbítero da Igreja não me reconheço nisto”, declara o autor de uma extensa obra que reflecte sobre que papel e que modelo a Igreja deve ter nos tempos modernos.

Pastorinhos foram vítimas de uma “farsa”



Numa altura em que a Igreja é assolada por escândalos de pedofilia entre padres católicos, Mário de Oliveira relembra que também as crianças de Aljustrel foram vítimas de uma “montagem” feita pelo clero de Ourém.

A utilização de Jacinta, Francisco e Lúcia numa suposta aparição de Nossa Senhora de Fátima, em 1917, arruinou a vida das três crianças. “Foi um crime pelo menos tão grave quanto o da pedofilia”, considera o autor do livro “Fátima Nunca Mais”, onde apresenta provas que desmentem as aparições de Fátima.

Esta “montagem”, nas palavras do Padre da Lixa, fez com que Fátima seja hoje uma “galinha de ovos de ouro para a Igreja”, defende Mário de Oliveira. “Fátima é uma empresa que dá muito dinheiro à Igreja em Portugal e ao Vaticano”, completa.

De acordo com o director do Jornal Fraternizar, “os interesses em Fátima são muitos” e só com uma mudança radical no modelo institucional da Igreja as aparições seriam reconhecidas como “um grande equívoco”.



Crítico da Igreja enquanto instituição, o Padre Mário de Oliveira defende que este modelo eclesiástico vai acabar por cair. Conhecido por ser um padre sem paróquia, o presbítero não concorda com a hierarquia do clero e defende uma mudança radical na estrutura de poder da Igreja.



Este institucional religioso católico romano existe há muitos séculos mas à revelia do Evangelho. Jesus nunca criou nenhuma instituição nem usou a palavra Igreja”, sentencia o Padre que foi afastado da Paróquia de Macieira da Lixa depois de ter sido preso pela PIDE pela segunda vez em 1973.

Comparando o clero com o antigo Império Romano, Mário de Oliveira defende uma Igreja que tenha pouca visibilidade na sociedade, exercendo uma “acção libertadora”, que ajude os homens a serem cada vez mais conscientes, “tal como o fermento é importante no pão mas não se vê”, explica o Padre.

Igreja mostra pés de barro

O Padre da Lixa considera que a divulgação dos abusos sexuais a menores por padres católicos abriu uma crise sem precedentes na Igreja. Mário de Oliveira até se diz “contente” por estes casos terem chegado ao público, uma vez que sempre soube “que este modelo institucional de Igreja tem pés de barros”.

As mudanças consagradas no Concílio Vaticano II, que decorreu na década de 60, não estão a ser cumpridas pelo poder eclesiástico. Muito pelo contrário, o Padre, que dirige o Jornal Fraternizar, considera que a Igreja tem lutado contra as medidas implementadas pelo Concílio Vaticano II, onde o então cardial Joseph Ratzinger teve uma intervenção importante enquanto teólogo.

Nos dias de hoje, o Papa Bento XVI tem uma postura muito diferente, “quase contrária”, daquela que tinha quando se assumiu como um dos grandes teólogos da Igreja moderna, defende Mário de Oliveira.

Os originais estão aqui e aqui.