terça-feira, 6 de abril de 2010

Olha, olha, olha

Parece que o WikiLeaks disponibilizou um vídeo onde é notório que forças norte-americanas decidiram jogar vídeo-jogos com pessoas e matar uma data de gente no Iraque.

Segundo parece também vão disponibilizar um vídeo semelhante para algo parecido sucedido no Afeganistão.

Mas tratemos do primeiro caso: no vídeo disponibilizado pelo WikiLeaks vemos umas dez, doze pessoas na rua, sendo duas delas jornalistas e estando uma delas armada. O comportamento das pessoas é totalmente calmo, nada suspeito e nada desconfiado.
Noutra região e noutra altura do dia, tinha havido confrontos entre forças norte-americanas e iraquianos e isso bastou para que aqueles iraquianos fossem visto como ameaças.

Seja como for quem está a fazer a gravação decide que a maior parte daquelas pessoas estão armadas e que ainda por cima têm RPGs. A pessoa que está no helicóptero dispara para todos eles várias vezes, até se ouve um dos militares a rir, e todos eles são alvejados. Alguns não se movem mais e outros arrastam-se pelo chão.

Posto isto um dos alvejados vai se arrastando pelo chão e o militar que está no helicóptero implora para que ele pegue numa arma. Sim, o militar implora para que um homem que está no chão, que foi acabado de ser alvejado repetidas vezes sob o fogo de um helicóptero Apache, que está a esvair-se em sangue, pegue numa arma. E o motivo é bastante simples: ele quer acabar o jogo. Segundo as regras de conduta do exército norte-americano qualquer insurgente é uma ameaça quando está armado e deve ser abatido.

O infeliz do homem não pega em nenhuma arma e como tal não é abatido. Passado algum tempo chega uma carrinha, o condutor vê um homem a esvair-se em sangue e arrastar-se pela rua e decide ajudá-lo. Péssima ideia!
Nunca em altura alguma o homem da carrinha tem uma atitude ameaçadora. Nunca em altura alguma se vislumbra algo que se pareça minimamente com uma arma, mas ainda assim os militares americanos estão a salivar por premir o gatilho. Os militares americanos imploram para disparar mais uma vez.
E a ordem é dada. Uma saraivada de balas chove sobre a carrinha e nada mais se move.

Os soldados estão obviamente contentes com o que fizeram até se vangloriam com o facto de terem acertado mesmo no meio do para-brisas da carrinha.

Depois soldados americanos aproxima-se do local e vêm que estão duas crianças na carrinha. Nisto diz um dos soldados:
Well it's their fault for bringing their kids into a battle.

Presumo que ajudar pessoas a esvaírem-se em sangue na rua seja a ideia dele do que é uma batalha, mas presumo que uma boa parte das pessoas discorda dessa ideia.

Após isto a Reuters pediu ao Exército Norte Americano uma cassete do que se passou de modo a poder averiguar e poder recomendar medidas aos seus jornalistas para que se minimizasse a possibilidade destas ocorrências.
Foi-lhes dito que tal só podia ser feito ao abrigo do Freedom of Information Act. Tal foi feito pela Reuters no próprio dia. Até hoje não tiveram mais reposta. Tudo isto sucedeu-se em 2007.

Após isto as declarações do exército-norte americano indicavam que eles não sabiam como e porquê é que as crianças estavam feridas (mentira!), que as pessoas mortas eram insurgentes (possivelmente mentira) e que estavam em batalha com o exército norte-americano (mentira!).
Algumas pessoas que estavam nas ruas, nos prédios relataram que as pessoas não estavam a praticar nenhuma actividade violenta e que a carrinha só tinha aparecido para ajudar. Um relatório da polícia iraquiana também dizia as mesmas coisas.
Mas tudo isto foi ignorado devido à versão do exército norte-americano.

Até ontem.

Ontem o WikiLeaks divulgou o vídeo que mostra como as coisas de facto aconteceram. E como as coisas de facto aconteceram tem muito pouco a ver com o relato do exército norte-americano e muito a ver com o relato dos iraquianos:

O vídeo contém imagens violentas!


Fontes
I
II
III
IV
V

Ps: Nem vale a pena mencionar o disparo de mísseis e o comentário: "There it goes! Look at that bitch go!", pois não?
Não vale a pena comentar que os únicos corpos que se encontraram no tal edifício muito pouco tinham a ver com insurgentes, pois não?
Não vale a pena comentar que se notavam claramente que estavam civis na rua e que disparar um míssil naquela altura colocou a vida deles em risco, pois não?
Não vale a pena comentar que quando o míssil foi disparado um homem encontrava-se mesmo em frente ao edifício, pois não?

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