quinta-feira, 1 de abril de 2010

Escrevi noutro lado, mas ponho-o aqui

Sobre o Onze de Setembro:

Onze de Setembro será para sempre uma data fatídica para todos aqueles que amam a Liberdade. Nesse dia o mundo viu o que são capazes os brutos quando querem tomar para si o poder. Nesse dia o mundo viu que vidas inocentes pouco contam.



A onze de Setembro de 1973 caiu o governo de Salvador Allende.





Um marxista que havia sido eleito democraticamente. Um marxista que lutou pela equidade, pela justiça, pela liberdade. Um marxista que cometeu dois erros: ser marxista, e de facto ser pelo povo.



Claro que maus exemplos desses não podiam ser tolerados pelos EUA. Democracia?! Direitos?! Verdade?! Nada disso não senhor. Um país pequeno começava a levantar-se. E horror dos horrores, fazia-o seguindo políticas de uma ideologia que não se podia ter quanto mais pôr em prática. E ainda por cima parecia estar a resultar nos primeiros tempos. A pobreza diminuía. As diferenças culturais e económicas esbatiam-se. A educação aumentava...



"Nada disso!" disse o Tio Sam. "Temos que tomar medidas. Este bom exemplo deve ser parado"




A CIA meteu mãos à obra. Quem não acredita só tem que ler isto. Deixo aqui alguns excertos no entanto:

"From 1970 to 1973, the United States government was involved in overt and covert actions against the elected government of Chile led by Marxist Salvador Allende. Unfolding events during these politically tumultuous years included the death of Chilean Minister of Defense René Schneider in October 1970 This study focuses on CIA covert action during the six weeks following Allende’s victory at the polls in mid-September 1970. Undeterred by the voters’ preference, President Richard Nixon delivered a clear and forceful Directive calling for expanded CIA operations in Chile. In the weeks between Allende’s election and his inauguration planned for 3 November, the CIA actively sought to foment a coup in Chile. Washington was unequivocal about its desire to keep Allende from power. “Nixon was furious” and was convinced that an Allende presidency would ensure the spread of Cuban President Fidel Castro’s communist revolution to Chile and the rest of Latin America. [4] He wanted to prevent Allende from being inaugurated. The message he delivered at the meeting reflected his anger. The handwritten minutes taken by DCI Helms are revealing: One in 10 chance, perhaps, but save Chile: Worth Spending Not concerned risks involved No involvement of Embassy $10,000,000 available, more if necessary full-time job—best men we have game plan make the economy scream 48 hours plan of action. As time went on, Track I expanded to encompass a wide range of political, diplomatic, psychological, and economic policies, as well as covert operations designed to bring about the conditions that would encourage Chileans to stage a coup. The parallel secret approach of Track II involved more direct efforts to prompt Chileans to stage an immediate coup. Both paths aimed at the same policy objective—the removal of Allende—but they differed in their approach, means, and timing. With marching orders from the White House, the CIA sent four “false-flag” officers to Chile, starting on 27 September. [11] They were to get in touch with Chilean military personnel, a task considered too hot for locally based CIA personnel. [12] With the assistance of these false-flag officers, the CIA made 21 contacts with officers in both the military and the Carabineros (the Chilean national police) from 5 to 20 October 1970. When contacted, “Those Chileans who were inclined to stage a coup were given assurances of strong support at the highest levels of the US government . . . .” By 14 October, the CIA had learned that the Viaux group had decided that the best way for them to trigger a coup was to kidnap Gen. Schneider and remove him from Chile. [56] This would convince the Chilean military that chaos was just around the corner and, therefore, they should prevent Allende from taking power. By assuming power themselves to quell the “chaos,” they could open the way—under Chilean constitutional law—for new elections, which, it was assumed, Eduardo Frei would win. The kidnapping, the CIA learned, was set for 17 October “between 0200–0700.” Schneider was shot by the attackers, who were part of Viaux’s gang. He died on the operating table on 25 October. The shooting occurred just 48 hours before Allende was to be confirmed in a congressional vote. After the shooting, there was confusion among the CIA officers in Santiago, as well as a degree of hope. They were not entirely sure who had launched the attack, and whether it was a kidnapping attempt or an assassination attempt. They hoped that the action was the beginning of a move against Allende, but there was no evidence that this was going to occur."




Ou seja desde o princípio que um governo socialista era altamente indesejado nas altas esferas de Washington, assim como a associação com raptores e assassinos não faziam a menor confusão. Para além deste meios convém ainda notar a directiva "make the economy scream". Sim não queriam só amedrontar as pessoas também queria que o sistema socialista falhasse para que as pessoas se revoltassem.



Quem sabe dos acontecimentos que se seguiram, sabe que de facto a economia gritou e que as pessoas se revoltaram. O plano finalmente começava a fruir.



Allende era atacado dos dois lados. De um lado porque era demasiado socialista do outro porque não era socialista o suficiente.



As agruras vão aumentando, o descontentamento vai aumentando e a onze de Setembro o caldo de facto é entornado. O regime socialista é derrubado, Allende morre (até hoje não se sabe bem de que maneira) e um regime favorável aos interesses do Tio Sam é finalmente instaurado.



Que importa as torturas? Que importa os desaparecimentos? Que importa as execuções sumárias? Que importa se deixou de haver liberdade? Nada disso importa uma vez que o Tio Sam teve o seu quinhão.












E mais isto e isto.



Os anos foram passando e a foreign policy dos EUA não mostrava sinal de abrandar. Se eram socialistas ou estavam em vias de o ser havia duas soluções: ou se financiava um golpe de estado, ou se invadia o país. E isto acontecia quer com presidentes democratas, quer com presidentes republicanos.




A revolta pelo dito terceiro mundo ia crescendo. Fundamentalismos iam crescendo. E no entanto a matança continuava. O treino, financiamento e apoio de entidades claramente não democráticas continuava desde que pudesse ser do interesse dos EUA.



Ouçamos por exemplo o que Ronald Reagan tem a dizer:







Pois é meus caros. Os mujahideen eram vistos como "Men's highest aspirations for freedom". Sim os mujahideen, cujo fundamentalismo islâmico era grandemente exacerbado (fora o armamento, treino e dinheiro) porque servia os interesses da altura (e é por estas alturas que se deve dizer olá ao Osama bin Laden). E deve dizer-se também, uma vez que é verdade, que a invasão da União Soviética ao Afeganistão foi provocada pelos EUA. Mas isso não interessa. Seja como for, em 1988/1989 fartos do seu Vietnam (e só isto daria não sei quantos livros) os Soviéticos decidiram retirar-se.


O pais mergulhou na miséria. Total, absoluta e desumana. Um governo fantoche foi colocado pelos EUA e vejam lá se adivinham quem ficou a ganhar. De certeza que não foi o povo afegão: senhores da guerra batalhavam por controlo, a economia estava em ruínas, a sociedade estava em ruínas, a guerra civil não tinha fim. Em suma, não havia nem lei, nem ordem nem humanidade.



Mas houve efeitos colaterais. Os mujahideen começaram a pensar: "Acabamos de expulsar um povo invasor, infiel e inferior; mas o que são os EUA? Não serão também eles invasores e exploradores de países como a Arábia Saudita e o Egipto? Não são tambem eles infiéis e inimigos jurados ao Corão?"



Eis que surgem os taliban. Os "estudantes" por assim dizer. Fruto directíssimo do financiamento dos EUA, Reino Unido e sabe-se lá quem mais. Tal e qual como a maior parte dos soldados do Khmer Vermelho eram jovens, orfãos e frutos da guerra. Jovens treinados em ideologias extremistas em ambientes extremos. E tal como no Camboja o povo adorou-os. Eles vinha trazer tudo de bom que aquele país ansiava há tanto tempo. Iam trazer um fim à guerra civil, à miséria, às mortes, às perseguições, aos orfãos, às mães sem filhos, às mulheres sem maridos. Em 1996 o seu poder é consolidado e começam logo a por em prática, novamente tal e qual como Khmer Vermelho, a sua versão altamente refinada de uma ideologia que já de si era extrema. Não há danças, não há educação para as mulheres, não há mais tentações ocidentais, fora outros abusos.



E o que fez o mundo: calou-se. O que fez o maior amante da liberdade e democracia que por aí anda: calou-se? Não, meus caros. Financiou-os. Sim, dinheiro fluiu para os taliban e saiu do povo americano. E sabem porquê? Planos futuros de exploração de petróleo (tal e qual como já os havia no regime ditatorial da Árabia Saudita)




A história foi evoluindo e deu nisto:







Inocentes morreram, tal e qual como no outro onze de Setembro, tal e qual como no Afeganistão, e o mundo ficou um local pior.

Por todo o lado regimes que já não eram nada simpáticos ficaram piores. Duas guerras de grandíssimas proporções seguiram-se. Violações de direitos humanos com a desculpa que se está a combater o terrorismo foram efectuadas um pouco por toda a parte.



Convém saber que o onze de Setembro de 2001 começou logo após o final da Segunda Guerra Mundial.



Convém honrar os heróis do onze de Setembro de 2001.




Convém também chorar as vítimas do onze de Setembro de 2001, mas convém ainda mais saber que a maior parte delas não estava nem em Nova Iorque, nem no Pentágono, nem na Pennsylvania.

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