quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Pena é o Marx ter tido muito pouco a ver com o socialismo e bastante a ver com a análise do Capital




Pois é meus caros. O Marx não era socialista. Ele próprio o disse muitas vezes. Por isso identificar marxismo com o socialismo é o primeiro erro.

O segundo erro é ignorar o extremo determinismo presente nos escritos do Marx. Quando ele diz aquelas barbaridades ele não as diz em discurso prescritivo, ele di-las em discurso descritivo (na forma de uma previsão, claro está). Claro que isso não o exonera de uma extrema idiotice, mas explica o porquê dessa idiotice.
E quando digo que Marx disse uma extrema idiotice não estou a querer dizer que Marx era idiota. Longe disso, caros leitores. Marx foi das pessoas mais inteligentes a passar por este planeta, mas era humano e como tal tinha quer falhas. Idiotas são os que se espantam com o facto de Marx ter falhas.

Marx escreveu muito. Marx escreveu imenso. Mas sobre o socialismo escreveu muito pouco mesmo. E do pouco que escreveu a maior parte foi para o deitar abaixo. Muito conhecidas são as suas confusões com pensadores e activistas que se diziam socialistas. E muito conhecido é também o scorn com que Marx os tratava. Por isso ligar ao pensamento de Marx ao pensamento socialista é  de uma desonestidade intelectual imensa, mas que infelizmente ocorre a muita gente. Às tantas nem é desonestidade intelectual, deve ser mesmo é ignorância. Por falar em ignorância notem bem a que vai desde os 2m46s até aos aos 3m08s. Porra até eu que tenho uns míseros 27 anos lembro-me de uns quantos que não só advogaram, mas como puseram em prática extermínio racial. Não vou ofender a inteligência dos leitores a citar nomes, mas acho que qualquer pessoa minimamente séria dirá que aquelas afirmações são falsas.

Quanto às pequenas diferenças entre o comunismo do Lenin e a fé de Hitler. Isto não é nada de novo e só deve ser estranho a quem não olha para as coisas como elas são.
Eu sou uma pessoa de ligar muito pouco a nomes e a rótulos. Por estranho que pareça, interesso-me muito mais por acções. E sempre que quero avaliar algo vou pelas acções. E quem olha para as acções de ambos regimes realmente vê muitas semelhanças e algumas (poucas) diferenças.

Mas tratemos agora de outras coisas. Em primeiro lugar olhemos para a expressão comunismo de Lenin. Essa é uma expressão que não faz sentido nenhum e eu farto-me de dizer isso às pessoas quando falo com elas.
Dizer coisas como regime comunista, ou partido comunista é apenas demonstrar que não se conhece bem a terminologia marxista (ou que se está disposta a utilizá-la de forma bastante livre). Falando em termos muito básicos a evolução das sociedades humanas passa por vários estágios e os que agora nos interessam são o capitalismo, o estágio seguinte a que Marx chamou de ditadura do proletariado e, finalmente, o comunismo (isto está muito simplificado, mas não é nada difícil ao leitor interessado saber como de facto as coisas são na concepção de Marx).
O comunismo era o estágio último da evolução, o estágio aonde não haveria estado, não haveriam classes, não haveria dinheiro, e todos os seres humanos trabalhariam de acordo com o que podiam, e teriam de acordo com o que necessitavam

Ou seja dizer regime comunista, ou partido comunista não faz sentido nenhum, se quisermos ser rigorosos. Quanto muito poderíamos dizer coisas como partido pró-comunista, ou então como às vezes se diz partido socialista. E estes partido teriam que ser partidos que fariam por atingir nas suas sociedades o estágio último da evolução segundo Marx. E isto para mim é um ponto muito importante, um partido para se dizer socialista, ou pró-comunista, teria que ser um partido que de facto tomasse acções que promovessem o aparecimento do comunismo.

Mas não basta só isto. Para um partido se dizer socialista teria também que ser um partido num país que já estivesse na fase capitalista da economia. Porque a ditadura do proletariado (ou socialismo segundo algumas visões) só aparece segundo Marx após o capitalismo. E mais do que isso só faz sentido e só é possível após o capitalismo.
Logo aqui temos um grande problema. É que que Rússia de 1917 podia ser muita coisa, mas não era capitalista. Nem de longe nem de perto. E Lenin sabia-o muito bem. Trotsky também o sabia muito bem. Aliás, toda a gente o sabia muito bem. E por isso mesmo quase todos eles escreveram a dizer isso. Nós não somos o país que vai trazer o comunismo ao Mundo porque muito simplesmente não temos condições para isso (Obviamente isto não é uma citação literal). Lenin disse isto várias vezes muito explicitamente. Na altura o plano era esperar pelo que o único país do mundo que de facto havia atingido o estágio capitalista, a Alemanha, tivesse um revolta do proletariado e depois esse país levaria a Rússia consigo no caminho glorioso do progresso e do comunismo.

Não têm que acreditar numa única palavra do que eu digo. Devem é ler e tirar as vossas próprias conclusões. Mas leiam as fontes primárias e não os comentários dos comentários dos comentários dos comentários. Se não, arriscam-se a repetir a merda que se diz tanto neste 6m30s de trailer como por esse mundo fora.

Depois disto vamos então à questão de se o Lenin e o seu partido de facto tomaram algum tipo de medidas para tornar a Rússia numa sociedade mais justa, que é como quem diz comunista (ou socialista).

Para variar vou olhar para os factos (de maneira algo resumida, mas que penso captar o que é essencial) e depois sim dizer qual a minha conclusão:
Em 1917 houve na Rússia duas revoluções: uma em Fevereiro e a outra em Outubro. Na primeira revolução o regime autocrata do czar foi destituído e várias medidas foram tomadas pelo povo:
  1. uma assembleia democraticamente eleita foi formada com o objectivo de se escrever uma constituição.
  2. Organizaram soviets que eram um forma de os trabalhadores se juntarem e exercerem democracia directa e controle sobre os seus meios de trabalho
  3. Houve uma luta para que de facto, trabalhadores, mulheres e crianças tivessem direitos dignos
Em Outubro, após um golpe militar falhado e turbulência política, uma segunda revolução ocorre na Rússia. Deste vez liderada por Lenin, Trotsky e o partido Bolshevik. Esta revolução também algumas consequências imediatas:
  1. Destituição da assembleia democraticamente eleita e que por "coincidência" não tinha os bolshevik como maioria.
  2. Ilegalização e perseguição dos soviet
  3. Perca de liberdades civis para virtualmente toda a população
  4. As palavras de ordem passaram a ser segundo Lenin: "The revolution has only just broken the oldest, most durable and heaviest fetters to which the masses were compelled to submit.  That was yesterday.  But today the same revolution demands, in the interests of socialism, that the masses unquestioningly obey the single will of the leaders of the labour process", "While the revolution in Germany is slow in "coming forth," our task is to study the state capitalism of the Germans, to spare no effort in copying it and not shrink from adopting dictatorial methods to hasten the copying of itOur task is to do this even more thoroughly than Peter the Great hastened the copying of Western culture by barbarian Russia, and he did not hesitate to use barbarous methods in fighting against barbarism."
  5. Para além disso economicamente falando Lenin nunca quis ter nada a ver com economia em termos socialistas. Ele defendeu e pôs em prática o que chamou de capitalismo de estado. E quando eu penso no que era o capitalismo de estado não vejo muita diferença entre este conceito e o conceito de corporativismo que é a pedra basilar do fascismo.
Sim, é verdade que durante os meses entre Fevereiro e Outubro os bolsheviks eram as cheerleaders dos trabalhadores e dos soviets, mas mal puderam tocar no poder foi uma inversão de 180º quer no discurso quer nas acções. Todo o incipiente socialismo que se estava a formar na Rússia de então foi fortemente condenado e barbaramente agredido .
Coisas como democracia agora não interessavam a ninguém (quanto mais democracia directa e livre associação), poder aos trabalhadores eram sonhos de uma burguesia fútil, e nada, mas mesmo nada de participação popular nos processos de decisão.
De agora em diante todo o poder reside numa classe privilegiada de intelectuais que tudo o que faz é para o bem do povo. Mesmo quando o oprime, quando o explora, quando o mata, quando o tortura, quando o humilha. Tudo isso é para o bem do povo.
Os russos de então eram um povo bastante atrasado em termos industriais e económicos e por Toutatis! os bolsheviks iam tratar de os colocar na rota certa. Iam levar tareia até chegarem ao estágio capitalista. Iam levar mais tareia durante a ditadura do proletariado (que novamente tomou um significado diferente do que o Marx lhe havia dado), mas quando finalmente chegasse o tão esperado El Dorado do comunismo tudo ia ficar bem.

Enfim socialismo da mais alta estirpe como se pode prontamente ver. Nada de oportunismo, ganância, e hipocrisia. Tudo bons rapazes com as melhores das intenções.

Olhemos para que fez o Hitler quando tomou poder e pensemos nas reais diferenças de um caso para o outro. Pois é!, são muitas não são?!
Ambos defenderam o poder popular até terem o poder nas suas mãos. Depois disso o poder pertencia a uma cambada de iluminados que iria tratar de fazer as devidas experiências sociais de modo a que as respectivas sociedades entrassem nos eixos.

Por isso novamente digo notar que os métodos do Hitler e do Lenin eram bastante similares só surpreende a quem não olha para o mundo e só ofende os que só olham para a propaganda.

Sobre o facto de o partido Nazi ser oficialmente chamado de Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães e daí aqueles pensadores tirarem qualquer conclusão realmente não vou dizer muito. Vou só repetir que para mim não interessam nomes e rótulos, mas sim acções.
E realmente os métodos de Lenin e Hitler diferiam maioritariamente na interpretação, mas asseguro que não era na interpretação do Socialismo (pelo menos não sentido que a palavra socialismo tinha até então)


E agora um pequeno desvio:

As pessoas normalmente dizem que o comunismo/socialismo falhou e que tal ficou demonstrado em 1989. Eu pergunto-me: "Mas como pode ter falhado algo que não foi posto em prática?" (estritamente falando isto não é verdade, porque houve sítios em que realmente se tentou o socialismo e nestes sítios os resultados foram positivos). E por outra: porque é que ninguém diz que a democracia falhou e que tal ficou demonstrado em 1989? Afinal o bloco de Leste que se dizia comunista/socialista também se dizia democrático, não era? Já ouço o leitor: "Mas ó dweebydoofus, lá porque eles se diziam democráticos não quer dizer que realmente o fossem. Se olharmos para os factos vemos que eles eram exactamente o oposto de democrático". E é esse mesmo o meu ponto! Não basta a classificação que eles se davam é necessário também olharmos para as acções. Se o fizermos vemos que esses países não eram nem democráticos, nem socialistas.

Ps:Confesso que ainda não vi o documentário na íntegra mas prometo vê-lo todo possivelmente hoje e aconselho a todos que estejam a ler a que façam o mesmo.

8 comments:

garibaldov disse...

"Democracy is the road to socialism." Karl Marx

"The meaning of peace is the absence of opposition to socialism."
Karl Marx

ateixeira disse...

1. Marx utilizava a palavra socialismo basicamente como sinónimo de ditadura do proletariado. E não é nesse sentido que as pessoas que se diziam socialistas entendiam o socialismo.

Cito por exemplo o que escreveu Bakunin:
"The differences between revolutionary dictatorship and statism are superficial.
Fundamentally they both represent the same principle of minority rule over the majority in the name of the alleged "stupidity" of the latter and the alleged "intelligence" of the former. Therefore they are both equally reactionary since both directly and
inevitably must preserve and perpetuate the political and economic privileges of the
ruling minority and the political and economic subjugation of the masses of the people.
Now it is clear why the dictatorial revolutionists, who aim to overthrow the existing
powers and social structures in order to erect upon their ruins their own dictatorships,
never were or will be the enemies of government, but, to the contrary, always will be
the most ardent promoters of the government idea. They are the enemies only of
contemporary governments, because they wish to replace them. They are the enemies of the present governmental structure, because it excludes the possibility of
their dictatorship. At the same time they are the most devoted friends of governmental power. For if the revolution destroyed this power by actually freeing the masses, it would deprive this pseudorevolutionary minority of any hope to harness the masses in order to make them the beneficiaries of their own government policy...
The Marxists insist that only dictatorship (of course their own) can createfreedom for the people... According to Mr. Marx, the people not only should not
abolish the State, but, on the contrary, they must strengthen and enlarge it, and turn it over to the full disposition of their benefactors, guardians, and teachers -- the leaders of the Communist party, meaning Mr. Marx and his friends -- who will then liberate them in their own way. They will concentrate all administrative power in their own
strong hands, because the ignorant people are in need of a strong guardianship... There will be slavery within this state... which will be even more despotic than the
former State, although it calls itself a People's State... It will be the reign of scientific intelligence, the most aristocratic, despotic, arrogant and elitist of all regimes. There will be a new class, a new hierarchy of real and counterfeit scientists and scholars, and the world will be divided into a minority ruling in the name of knowledge, and an immense ignorant majority. And then, woe unto the mass of ignorant ones...
A strong State can have only one solid foundation: military and bureaucratic centralization.

ateixeira disse...

(continuando)
The fundamental difference between a monarchy and even the most
democratic republic is that in the monarchy, the bureaucrats oppress and rob the people for the benefit of the privileged in the name of the King, and to fill their own
coffers; while in the republic the people are robbed and oppressed in the same way
for the benefit of the same classes, in the name of "the will of the people" (and to fill
the coffers of the democratic bureaucrats). In the republic, the State, which is
supposed to be the people, legally organized, stifles and will continue to stifle the real
people. But the people will feel no better if the stick with which they are being beaten
is labeled "the people's stick. . . ."
No state, however democratic -- not even the reddest republic -- can ever give
the people what they really want, i.e., the free self-organization and administration of
their own affairs from the bottom upward, without any interference or violence from
above, because every state, even the pseudo-People's State concocted by Mr.
Marx, is in essence only a machine ruling the masses from above, through a
privileged minority of conceited intellectuals, who imagine that they know what the
people need and want better than do the people themselves. . . .
The State has always been the patrimony of some privileged class: a priestly
class, an aristocratic class, a bourgeois class. And finally, when all the other
classes have exhausted themselves, the State then becomes the patrimony of the
bureaucratic class and then falls -- or, if you will, rises -- to the position of a machine.
But in any case it is absolutely necessary for the salvation of the State that there
should be some privileged class devoted to its preservation.
But in the People's State of Marx there will be, we are told, no privileged class at
all. All will be equal, not only from the juridical and political point of view but also from
the economic point of view. At least this is what is promised, though I very much
doubt whether that promise could ever be kept. There will therefore no longer be any
privileged class, but there will be a government and, note this well, an extremely
complex government. This government will not content itself with administering and
governing the masses politically, as all governments do today. It will also administer
the masses economically, concentrating in the hands of the State the production and
division of wealth, the cultivation of land, the establishment and development of
factories, the organization and direction of commerce, and finally, the application of
capital to production by the only banker -- the State. All that will demand an immense
knowledge and many heads "overflowing with brains" in this government. . . .
Can one imagine anything more burlesque and at the same time more revolting?
To claim that a group of individuals, even the most intelligent and best-intentioned,
would be capable of becoming the mind, the soul, the directing and unifying will of the
revolutionary movement and the economic organization of the proletariat of all lands -
- this is such heresy against common sense and historical experience that one
wonders how a man as intelligent as Mr. Marx could have conceived it!"
Altamente presciente.

ateixeira disse...

(continuando)



2. Cito este trabalho: http://www.amazon.com/End-Ideology-Exhaustion-Political-Resumption/dp/0674004264
"In only one other place did Marx elaborate any remarks about
the future society -- the testy letter which came to be known as The Critique of the
Gotha Programme. In 1875 the rival Lasallean and Eisenacher (Liebknecht, Bebel,
Bernstein) factions met in Gotha to form the German Socialist Workers Party
(Sozialistische Arbeiterpartei Deutschlands). As a political party, the socialists were
confronted, for the first time, with the task of stating a political program on transition to
socialism. Taking its cue from the [1871 Paris] Commune, the Gotha program
emphasized two demands: the organization of producers' co-operatives with state aid
and equality.
Marx's criticism was savage. The demand for producers' co-operatives, he said,
smacked of the Catholic socialism of Buchez (the president of the Constitutional
Assembly of 1848), while the demand for the "equitable distribution of the proceeds of
labour" was simply a bourgeois right, since in any other society than pure
communism the granting of equal shares to individuals with unequal needs would
simply lead to renewed inequality. A transitional society, Marx said, could not be
completely communal. In the co-operative society, based on collective ownership,
"the producers do not interchange their products." There would still be need for a
state machinery, since certain social needs would have to be met. The central
directing agency would make deductions from the social product: for administrative
costs, schools, health services, and the like. Only under communism would the
State, as a government over persons, be replaced by an "administration of things. . .
." Despite his theoretical criticisms of the transitional program, there is little in the
Critique of a concrete nature regarding the mechanics of socialist economics either in
the transitional or the pure communist society."

Mais uma vez é uma questão de ler as fontes originais e não os comentários dos comentários dos comentários dos comentários...

ateixeira disse...

Já agora de que textos provêm essas citações do Marx?

garibaldov disse...

Mas porque raio me estás a citar o Bakunin, com quem eu concordo mais do que com o Marx?

Quanto à citação do Marx, não me dizes nada de novo.

Não tenho por hábito ler os comentários dos comentários em vez das fonte primárias, pois o que fiz foi, justamente citar um fonte primária sobre o Marx - ele mesmo.

O facto é que ele também usou a palavra e a mesma foi usada tanto para objectivos ditatoriais como democráticos.

Tanto o allende tentou aplicar como o chávez está a aplicar ideias socialistas através de processos democráticos.
Mas se eles fossem ditadores ou autocratas isso não invalidava, por si só, que eles fossem socialistas.

Eu também estou mais de acordo com a tua posição em relação a bakunin ou aos soviets e à democracia directa, mas não afirmo tão veementemente que a palavra socialismo só possa ser usada em contextos democráticos ou não-impositivos.

ateixeira disse...

Quando falo em ler fontes primária não me refiro a frases soltas, refiro-me a documentos directos. Por isso te perguntei em que textos de Marx ele diz isso.

"Eu também estou mais de acordo com a tua posição em relação a bakunin ou aos soviets e à democracia directa, mas não afirmo tão veementemente que a palavra socialismo só possa ser usada em contextos democráticos ou não-impositivos."
Não é bem isso que estou a afirmar. O que estou a afirmar é que se deve ter bem em conta o significado das palavras. Temos que saber bem o que Marx queria dizer com socialismo e não citar frases soltas dele como exemplo.
Para além disso acho que quando um novo termo é utilizado devemos prestar muita atenção ao seu significado original e o que se dizia sobre ele aquando da sua formação. Case in point: socialismo. A noção de socialismo é anterior à Marx e vários pensadores a utilizaram antes dele e utilizaram de modo diferente do dele.
Depois vieram os Lenin, os Trotsky, os Mao, os Pol Pot e sei lá mais quem e utilizaram-no de modo diferente. A palavra era a mesma, mas o sentido era radicalmente diferente. E eu acho que é preciso tomar muita atenção a isso. Em primeiro lugar porque é bastante óbvio o porquê das pessoas anteriores se dizerem socialistas. Oportunismo puro e duro (no caso do Pol Pot se calhar era mesmo loucura pura e dura) mas nos outros casos acho que convém mesmo pensar por que é que adoptam essa terminologia. Novamente tenho como resposta que é por uma questão de oportunismo. Um oportunismo diferente é certo, mas ainda assim oportunismo. Porque depois podem vir com as tretas dos mercados livres, e democracias liberais para cima de outros países devido ao medo do que é o socialismo/comunismo.
A minha intenção é precisamente contrária ao que dizes. Eu não estou a dizer que o socialismo é só democracia directa e conceitos afins. O que eu estou a dizer é que o socialismo não se esgota no Lenin e derivados e há outras concepções de socialismo que realmente podem ser benéficas às pessoas e que é para essas concepções que devemos olhar.
E parece-me bastante importante essas concepções serem as concepções originais.

ateixeira disse...

Ainda estou a espera dos textos de Marx de onde provêm as citações iniciais.