quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Chega desta atitude











Com o atomismo e a alienação somos postos de parte:


Pensamos que somos os únicos.


Pensamos sempre que só nós que pensamos.


Só nós é que vemos.


Só nós é que nos importamos.


E assim as coisas acontecem porque toda a gente se importa, mas ninguém se importa. 


É necessário crermos na unidade.


E unidade não quer dizer uniformidade.


Unidade quer dizer entre-ajuda, auto-gestão, companheirismo e democracia.

14 comments:

garibaldov disse...

Está tão errado achar que os outros não pensam como achar que os outros pensam que os outros não pensam.

ateixeira disse...

Engraçado: nas várias conversas que tivemos eras tu quem dizias que os outros não pensavam e que estavam acomodados.

E eu até te disse que das várias conversas que tive com várias pessoas toda a gente diz basicamente o mesmo: "eu até que queria fazer algo, mas os outros estão-se a borrifar."

Mr. Kiss disse...

Para além do soundbite que lançaste gostava de ler mais acerca da tua opinião.

Não é preciso ler muitos op-eds, ver muitas entrevistas, falar com muitas pessoas, para se chegar à conclusão que realmente pensa que está sozinha e que só "eu" me importo verdadeiramente com as questões importantes. Ou nega isto? Acha mesmo que uma boa parte da população não pensa nos moldes expostos no post original?
Note que não é importante que as pessoas concordem sempre no que são as questões importantes, ou que concordem na noção do que é pensar a sério.
A excepção que me parece mais óbviao ao que disse deve-se ao facto de todos nós sofremos de in group bias. E assim pensarmos sempre que aqueles nos são mais próximos são de alguma forma melhores que os "de fora".

garibaldov disse...

Estás a ser um bocado desonesto ou esquecido em trazer á praça pública transcrições incorrectas do que eu disse.

Eu disse que as pessoas em geral não têm a mesma formação que tu, não têm a mesma escola de pensar. O facto de toda a gente pensar não significa que cheguem ás mesmas conclusões que tu esperas, pois isso depende do contexto (incluindo tempo para pensar) em que cada um vive.

Outra coisa que eu disse foi que as pessoas com quem falei sempre reagiram mal ao facto de eu usar a palavra anarquismo, mais do que às minhas ideias. O que me fez procurar outras palavras e conceitos que não minassem o meu diálogo com elas.

Mas com aquilo que disseste sobre mim ficou claro que a simples convicção de que se está a querer ser lógico e informativo não chega para evitar a formação de ideias erradas. Como já antes te tinha dito, acho que és muito precipitado. Parece que tens muita pressa em separar as pessoas em certas e erradas.

ateixeira disse...

A ser alguma coisa serei esquecido. Mas tenho a certeza que disseste isso.E a palavra acomodado foi mesmo a que tu usaste. Lembras-te quando eu te disse que toda a gente diz que pensa e quer agir? Lembras-te de eu te ter dito que tal não pode ser verdade? Pois eu disse-te isso devido à teres falado na acomodação da maior parte das pessoas. E se queres que te diga a expressão que usaste nem foi maior parte das pessoas foi burguesia (e foi óbvio que não usaste esta expressão de forma depreciativa). Disseste que os burgueses têm tendência a querer manterem-se confortáveis. E também disseste que a maior parte da população mundial faz parte da classe burguesa. E isso foi o que disseste mais palavra, menos palavra. Ou então imaginei e vou-me já internar que estou pior do que pensava. E não és tu a única pessoa a pensar assim. Todos nós (eu incluído) achamos que outras não se esforçam o suficiente em alguma questão. E isto parece-me ser um facto.

Gostava de saber quando te falei de pessoas certas ou erradas no entanto. Ou então diz-me o que foi que disse que te levou a pensar que faço essa distinção.
As únicas vezes que uso essas palavras são no contexto de afirmações que se adequam aos factos ou não. Nem sequer sei o que quer dizer "separar as pessoas em certas e erradas" por isso gostava imenso de saber como o faço.
Tangencialmente relacionado com isto: gostava de saber qual é a minha escola de pensar. Tanto quanto sei não tenho nenhuma em particular. Tanto quanto sei tento seguir um conjunto de ideias principais (se isto fosse matemática chamaria a isto de axiomas) que me parecem logicamente coerentes, emocionalmente satisfatórias e que no final atingem o melhor resultado possível para o maior número possível de sere humanos. É perfeitamente possível que esteja errado nisto, mas é uma escolha que tomei após pensar. E se estiver errado não tenho problema nenhum em rever a minha posição.

E achar que outros se acomodam não é achar que devem chegar às mesmas conclusões que nós. É achar que os outros nem sequer chegam a pensar em primeiro lugar. Ou se pensam o fazem de maneira superficial.
Isso da formação não me parece ser o essencial para se pensar. O essencial parece-me ser o tempo. E nem toda a gente tem o mesmo tempo livre para pensar. Pessoas com dois empregos que chegam à casa totalmente cansadas física e mentalmente têm mais que fazer do que se porem a pensar no mundo em que as rodeia (a maior parte pelo menos).
Só este assunto daria um post com o seu quê de palavras e pode ser que o faça em breve. Uma vez que é sempre bom ouvir vozes dissonantes. Podes não acreditar nisto, mas eu prefiro falar com pessoas que discordem do que digo. Sinto que aprendo muito mais dessa maneira. Tanto sobre o que penso, como sobre o que os outros pensam.

garibaldov disse...

Peço desculpa não ter respondido ao artis long.

Eu disse aquilo como desafio à lógica da ideia essencial do post.

Não basta dizer "chega desta atitude". Acho a questão muito mais complicada. O simples facto de as outras pessoas estarem acomodadas não significa que não pensem sobre o assunto mas não é a simples consciência de algo que faz uma pessoa mover-se para mudá-lo.

Eu não acredito na ideia do "unam-se, ninguém está sozinho". Isso faz-me lembrar a mensagem de Jesus Cristo, "amem-se uns aos outros" que não deu grande resultado. É muito fácil falar em unidade quando ainda não se tentou alcançá-la mas quando finlamente se passa á acção, aí se vê como as pessoas aranjam todas as justificações para se dividirem.

No rebentar do 25 de Abril, aparecem maoístas, trotskistas, leninitas, estalinistas, socialistas moderados, socialistas-marxistas, anarcas de várias espécies, sindicalistas, fascistas, neo-monarquistas...
todos supostamente pelo objectivo comum de portugal.

Sermos muitos a pensar não implica que cheguemos a melhores conclusões que se formos poucos, por muito estúpido que possa parecer eu achar isto. É no frio que se pensa melhor e não no calor da multidão.

garibaldov disse...

Sim, falei em quase todas essas ideias que mencionaste, inclusive a da pequena burguesia. Mas com isso não fiz as relações que tu sugeres. Eu nunca disse que as pessoas não pensavam e nunca cheguei a usar o termo "acomodados". JURO-TE. Tu usaste esse termo para te referir à ideia que te pareceu implícita nas minhas observações. Nós estávamos a falar á pressa e a correr para o metro e nem eu nem tu acabámos todas as nossas frases. O que eu queria dizer em relação à pequena burguesia não era que eles não pensavam mas que na minha opinião o nível de vida e a sua relação com o fabrico dos produtos que consomem (ou seja, quase nenhuma)tem uma forte influência na formação dos seus valores e convicções. E disse isso no contexto da hipótese de uma consciência anarquista.

Mr. Kiss disse...

Não basta mesmo dizer chega desta atitude. Por isso falo em auto-organização, companheirismo e democracia. E tal como se diz neste blog: "Porque é preciso pensar, porque é preciso agir." E note bem a parte do agir.
Se calhar entendi mal entendi mal o que escreveu, mas note que digo que unidade não quer dizer uniformidade. Acredito sinceramente que os ideais de unidade, companheirismo e democracia funcionariam. Mas isto claro é só uma opinião. Uma crença. Tal como também é uma crença o que você diz. Agora só os factos poderão atestar a veracidade quer duma quer doutra crença. E olhe que os factos não têm que concordar por todo o mundo e por todo o tempo.
Quanto ao que diz sobre muitos a pensar não chegarem necessariamente a melhores conclusões do que se formos poucos. Concordo totalmente. é que não basta serem muitos a pensar. É necessário, mas não suficiente, serem muitos a pensar e a discutir o que pensaram. Assim sim me parece que se chega a bom porto com maior probabilidade do que no caso do pensador solitário. É sempre necessário justapor as nossas ideias ao mundo e uma vez que não podemos estar em todo o lado discutir com pessoas ajuda em muito nesta tarefa.

Quanto às várias facções pós 25 de Abril: obviamente que a sua convivência não se enquadrava nos princípios da democracia e companheirismo de uns para os outros. Cada facção não estava muito disposta a ceder, nem estava muito disposta a ouvir os outros (penso que isto está bem documentado). Ou seja parece-me que o seu contra-exemplo a ser contra-exemplo de alguma coisa de certeza que não é do que eu disse.

Só para terminar que tipo de anarquista era você? Anarquista individualista?

garibaldov disse...

Eu não sou do tempo do 25 de abril. Sou muito novo ainda.lol. Eu fui em tempos anarquista, não sei em que tipo me enquadrava. Tinha um projecto de desconstrução de poder sem imposição. Multiplicava-se progressivamente as delegações de poder e desmultiplicava-se ao mesmo tempo, a abrangência de cada poder em si. A ideia foi muito mal revebida e nunca me dei bem com a maioria dos anarquistas que conheci porque tinham ideias muito fantasiosas e moralistas, demasiado apoiadas na boa vontade, a qual não acredito que deva ser exigida de ninguém.

A forma como falei foi muito simplista e vaga. Quado tiver mais tempo, poderei falar melhor sobre o assunto.

ateixeira disse...

Por acaso a fase em que me estou a lembrar nem foi no metro. Foi no gabinete. E olha que normalmente tenho boa memória para estas coisas. Mas temos mais que fazer do que andar aqui no "disseste, sim senhor/ não disse não senhor".
O sketch é claramente simplista, mas acho que ninguém espera toda a verdade num mundo num sketch cómico. A ideia do sketch quanto é mim é mostrar que todos nós pensamos que os outros não pensam o suficiente em determinados assuntos. E acho que isto é inegável. Basta, ler, ouvir e falar para nos depararmos constantemente com esse ponto de vista. Se achas que não é bem assim deves falar com mais pessoas e prestar muita atenção ao que dizes.
Outra coisa que também claramente é verdade é que é bastante óbvio que todos nós não pensamos a fundo em todas as questões. Se não não fazíamos mais nada das nossas vidas.
O que eu acho que se devia fazer é tomarmos bastante consciência das nossas limitações e pensarmos que em conjunto realmente chegamos a algum lado.

garibaldov disse...

A última frase é também para mim, um facto.

O problema é que eu não vejo que a motivação para a unidade seja ela uma força realmente importante para a formação da unidade em si.

Acho que, infelizmente, as coisas (a nível global) não acontecem porque a gente quer, elas acontecem porque existem condições para elas se desenrolarem naturalmente, altura em que devemos aproveitar.

Ainda faltam, na minha opinião, muitos colapsos de sistemas e guerras (muitas delas, iniciadas por motivos hipócritas) para que se possam um dia criar condições de unidade não-uniforme sustentável, ou seja, o sonho da convivência não coerciva pacífica não me parece realizável no contexto de uma globalização e de uma revolução na velocidade de comunicação porque os destinos políticos de cada nação estão cada vez mais entralaçados e comprometidos económicamente. Posso estar enganado.

O conceito de estado, com toda a hipocrisia que ele usa para se sustentar a si próprio, é a única arma que temos de momento para combater os abusos do sistema capitalista global. Infelizmente, a demagogia é a base de uma admnistração sustentável do estado democrático (e também de quem aspira derrubar essa admnistração) que não esteja constantemente a ser reformulado.

Vejo esperanças em alguns países da América do Sul, se se conseguir educar os povos de uma forma equitativa, as condições para a unidade (possivelmente não uniforme) podem existir. Mas tal terá que passar por lutas de interesses, onde a demagogia irá ter um papel fundamental e até um grande investimento na defesa.

Entretanto, vêm aí a China e a Índia. Isto ainda vai dar muitas voltas.

Mas acho que deves continuar a lutar, se vês outras portas e outras janelas. E para tal deves insultar-me a mim e ao meu cinismo. lol.

abraço

ateixeira disse...

"O problema é que eu não vejo que a motivação para a unidade seja ela uma força realmente importante para a formação da unidade em si."
Parece-me então que tens uma visão da história que é mais marxista (na concepção inicial deste termo) que a minha.

"Acho que, infelizmente, as coisas (a nível global) não acontecem porque a gente quer, elas acontecem porque existem condições para elas se desenrolarem naturalmente, altura em que devemos aproveitar."
Aqui acho que á mais uma questão do estilo "o que veio primeiro: o ovo ou a galinha?". Ambas as condições têm que estar presentes e acho há bastante interacção entre estas as duas condições (ou seja o querer propicia as condições para as coisas se desenrolarem (não instantaneamente claro), mas discordo totalmente quando usas as expressão "desenrolar-se naturalmente" ) e a consciência de haver condições para que as coisas se propiciem fazem com o querer se espalhe para camadas maiores). Novamente volto a dizer que não sei qual dos dois factores vem primeiro e qual de facto é o mais importante uma vez que um se alimenta do outro.

"o sonho da convivência não coerciva pacífica não me parece realizável no contexto de uma globalização e de uma revolução na velocidade de comunicação porque os destinos políticos de cada nação estão cada vez mais entralaçados e comprometidos económicamente. Posso estar enganado."
Primeiro que tudo tínhamos que discutir o que queres dizer com globalização, mas se estiveres a referir-te na acepção em que ele normalmente utilizado parece-me que faz muito sentido tentarmos valer os valores de entre-ajuda e internacionalismo a sério que de facto façam a diferença para uma parte substancial da população mundial.
E tudo isto não quer dizer homogeneidade como sinónimo de sermos todos iguais em tudo e mais alguma coisa. Quer dizer sermos iguais em termos de oportunidades. Agora o que cada um faz com as suas oportunidades é da sua total responsabilidade.

"Mas acho que deves continuar a lutar, se vês outras portas e outras janelas. E para tal deves insultar-me a mim e ao meu cinismo. lol."
LOL
A força da luta contra estas instituições vem mesmo é da pluralidade de métodos de luta. Cada conjunto faz o que acha melhor à partida e aplica os métodos com os quais se sente mais confortável, agora saber a priori o que vai ou não vai resultar parece-me impossível.

Abraço

garibaldov disse...

Acho que a diferença está, de facto, no nosso conceito do papel da "vontade" na história.

Eu de facto, sou bastante marxista na análise histórica mas acho que o manisfesto comunista foi um achaque que lhe deu. lol.

Fico abismado com as poucas propostas naquele tempo que contavam com a multiplicação da capacidade de produção como forma de aliviar a população do excesso de carga de trabalho. Hoje, Paul Lafargue está completamente esquecido.

O facto do Proudhon ter sido praticamente humilhado pelo marx e chamado de traidor e reaccionário pela grande generalidade dos pertencentes à Internacional, quando ele propôs uma aliança com a burguesia, deixa-me muito pessimista quanto à racionalidade e sensatez da espécie humana quando se une, mesmo quando essa união é composta por muitos intelectuais.

Acho que devia ser lógico deduzir que o proletariado iria diminuir em volume devido ao grande desenvolvimento das técnicas de produção e seu rndimento. A questão não estava no poder do protelariado, estava na sua potencial dispensabilidade futura.

O segredo está em analisar o progresso científico e tecnológico e tentar tomar medidas adaptadas a ele.

Bom, mas já chega de divagações,que eu aqui a falar assim à pressa, até deixo a impressão de que as coisas são assim tão simples.

ateixeira disse...

O Marx foi sem dúvida alguém muito inteligente. Mas foi também alguém cada vez mais intransigente com o passar dos anos e segundo parece cada vez menos socialista (até parece que nunca foi muito socialista).
Essa sua intransigência parece que foi transmitida aos seus admiradores e por eles muito exacerbada. Ou seja esqueceram-se do companheirismo e da unidade.
A experiência humana é o mais complexa que há e cada vez que alguém propõe um solução única para toda a humanidade só mostra que esse alguém tem uma forte vertente autocrática a correr no seu corpo. E foi isso que Marx e os marxistas do seu tempo fizeram. Mostraram ser uns autocratas de todo o tamanho que pensavam ter a solução para toda a humanidade.
Por isso não sou marxista em termos históricos no sentido de achar que existem as "leis de ferro da história".
Esse episódio do Proudhon é um cautionary tale que nos avisa dos perigos de nos concentrarmos só na nossa visão e fecharmos as portas para diálogos com ponto de vista diferentes.

Mas enfim, mas tempo houvesse e talo como tu muito mais diria.